segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Taz

Hoje eu acordei disposto a resolver grandes enigmas, assuntos pendentes e se sobrar tempo arrumar o meu quarto.
Meu despertador toca às 6h00, eu levantei pontualmente às 09h45; exausto de preguiça. Odeio a vontade matinal que eu sinto de ligar o computador antes mesmo de fazer xixi.
Me arrasto para o banheiro, evitando o espelho do corredor enquanto o meu Windows XP é carregado; aliás o que é “XP”? Tenho certeza que o meu irmão deve saber...
No banho além de boas punhetas, eu costumo ter boas idéias. Penso nas coisas que preciso fazer ao longo do dia, e também naquelas que vou deixar para o dia seguinte.
Em um determinado momento eu me lembro do que realmente está me tirando o sono aqueles dias, e só então, eu acordo realmente e paro de fazer as coisas por inércia.
A medida que eu enxáguo a minha cabeça fico pensando no quão ingênuo eu consigo ser. E quanto mais eu esfrego os meus cabelos, mais eu fico indignado com o descaso do governo brasileiro e do filho da puta que eu transei ontem.
(...)

Ainda consigo ouvir meus gemidos de prazer à medida que ele entrava na minha vida pela porta dos fundos. As músicas erradas estavam previamente selecionadas desde o dia que eu te passei o meu endereço; elas tocaram uma atrás da outra enquanto atrás de mim você me tocava também.
Eu sei exatamente o que me atrai em você... É que você finge que eu estou no comando e por isso me deixa falar as coisas que jamais deveria dizer enquanto a sua língua safada e mentirosa percorre as minhas costas na posição perfeita pra você penetrar me enganando.
O problema é que você não era o único que me enganava naquela minúscula cama de solteiro carente. Eu era o primeiro a me sabotar em tudo que eu aprendi e deveria usar contra caras como você.
Foi então que eu comecei a perder o controle e caras como você nunca perdem o controle. Sabem exatamente o que estão fazendo. Sabem onde e em quem pisam.
Eu quis representar tanto pra você no período mínimo de duas horas que acabei representando o papel ridículo da exagerada fragilidade feminina que teima em se manifestar toda vez que você puxava os meus cabelos com força e se encaixando entre as minhas pernas daquela maneira invasiva e arrogante.
Gozamos embaixo de estrelas de mentira, aliás, tudo naquele quarto era de mentira. Eu acendi as luzes rápido demais! Seus olhos não estavam acostumados com as imperfeições do meu corpo... Então o seu corpo satisfeito se vestia rapidamente, agora cheio de horários e desculpas. E o pior é o nível das desculpas, tipo aquela da vovó no hospital ou que tinha esquecido o feijão no fogo. Enfim eu sorri me fingindo de bobo.
Quando eu quase desconfiava que você não ia sequer me ligar, você me deu um chocolate que você provavelmente comprou no ônibus daqueles ambulantes; e esse foi o único momento que você me surpreendeu, quando demonstrou algum carinho. Porque durante todo o restante do tempo você se comportou exatamente como todos os outros.
Eu sabia que você vinha e só entrou porque eu permiti. Na verdade a situação esteve sob o meu controle todo o tempo... Mas ainda assim, não dependia de mim que você voltasse, mas voltou. Apareceu uma segunda vez devorando tudo que via pela frente e bagunçando um pouco a minha vida e a minha cabeça. Mentiu e ciscou mais um pouquinho pra ir embora da mesma forma.

Eu não quero nem preciso de um furacão que passa de vez em quando desarrumando a minha cama. Prefiro uma brisa um pouco mais leve, não menos intensa, mas que não me carregue, e sim me refresque.

No final das contas, ele não conseguiu me arrastar para o inferno, “eu não iria tão longe”. Mas me deixou um pouco perdido em sensações que eu já não preciso mais sentir. Por isso por enquanto minha janela permanece fechada, pelo menos até eu arrumar todas as coisas que você derrubou quando passou por aqui correndo que nem o Taz, fugindo de si mesmo.

Um comentário:

Gláucia Firmino disse...

adorei. Uma leveza devastadora no texto, é delicioso seu coquetel de sentimentos e palavras.