terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Quarto 13

Não há nada pior do que uma noite mal dormida, ou mal fudida.
No quarto de hotel, pago por mim, estavam duas pessoas que não tinham nada em comum, além do desejo sexual explícito e o desejo amoroso frustrado.
Após um ritual barato de tirar as roupas um do outro, sem disfarçar o desagrado com o que era revelado, eu só conseguia pensar no livro que estava estrategicamente guardado na minha mochila, cujo qual eu iria recorrer a qualquer momento.
O corpo suado de quem se esforçava para tentar valer a pena, não me agradava também, e eu gozei rápido para que ele saísse logo de cima e de dentro de mim.
Se houvesse uma maneira de um homem fingir um orgasmo com outro homem, esse seria o momento que eu o faria.
Assim que abri os olhos, e me vi refletido ali, vulnerável e submisso no quarto 13, eu quis desaparecer.
Preferia arrancar o meu braço ao despertar o infeliz ser humano que ali repousava, orgulhoso e exausto de um sexo muito do sem vergonha. ¬¬
O número 13 definitivamente traz azar !

Pior do que os palavrões que ele não falou, foi tentar forçar uma initmidade que nunca existiu.
"Vamos tomar banho, bebê ?" - Aquilo foi como uma facada no meu estõmago ! Eu não podia acreditar que havia dito isso. E o pior foi como ele disse, forçando uma entonação infantil na voz.
Se os seres humanos habitassem algum outro planeta X, onde fosse permitido se teletransportar uma única vez na vida, de qualquer lugar do mundo, para a sua casa, esse seria o momento que eu utilizaria esse artifício.
Sem jeito nenhum, ele se levantou e calçou aqueles chinelos horríveis de motel. Sabe aqueles que nem o Brad Pitt ficaria bem? E me chamou de bebê mais uma vez.
Indignado com a falta de bom senso daquele animal, eu fui na frente e liguei o chuveiro. - Sim, eu aprendi a ligar os chuveiros.

A banheira era grande demais para duas pessoas tão distantes e o sabonete pequeno demais para dois corpos tão nus.
Ali estava exposta toda fragilidade do ser humano, toda a sua carência e desespero escorrendo com o suor de uma foda muito sem graça; mais xoxa que o último capítulo da novela !
Houve um momento que ele quis me ensaboar, mas eu fiquei tão incomodado, que ele imediatamente parou. Enfim um pouco de bom senso!
Assim que se retirou da banheira, se enxugou e calçou mais uma vez aqueles malditos chinelos, eu imediatamente dei início ao meu verdadeiro banho. Tirando do meu corpo o que tinha sobrado dele.
Ao voltar para o quarto enrolado na toalha, percebi que ele estava com os cabelos molhados, despenteados, que provavelmente não tinha escovado os dentes, e ainda por cima me olhava fixamente.
Com todos esses precedentes, não tinha como encará-lo de frente, então apaguei a luz.

Ao deitar fui imediatamente trazido para perto do seu corpo ainda molhado, num movimento bruto e sem jeito, mais rústico que o Fred Flinstone. Ficou roçando aquele pé no meu e me chamou de bebê de novo.
Dei graças a Deus quando ele finalmente adormeceu. Pelo menos o imbecil não roncava !
Me levantei, apanhei o meu livro e fui em direção ao banheiro.
Enquanto enchia rapidamente a banheira, com muito cuidado para não acordar o idiota, fiquei tentando descobrir porque odiava tanto, e sentia tanto asco, de quando ele me chamava de bebê.
Foi quando eu finalmente desvendei o enigma. Era tão óbvio, tão cruel e tão irônico.... Passou como um filme pela minha cabeça as cenas editadas e mal dirigidas do meu último relacionamento; Quando eu ficava esperando aquele otário me chamar de algum apelido carinhoso... Mas ele nunca chamava. Até que o dia que, ele sem mais sem menos me chamou de bebê, uma única vez ... Nunca mais.
Interrompendo a nostalgia dolorosa e vingativa que se instalou no meu coração; finalmente mergulhei meu corpo naquela banheira e li pelo menos 40 páginas de "Ensaio Sobre a Cegueira", e essa foi a melhor parte da minha noite.

Ao voltar pra cama, adormeci rápido. O despertador tocou às 11:00, e às 11:25 eu já estava pronto.
Enquanto ele recolhia as suas roupas pelo chão, eu recolhia na minha cabeça os pedaços da minha dignidade que haviam sobrado, e tirava alguma lição de moral disso tudo.
Fizemos uma nova rápida tentativa sexual, igualmente e frustrante. Finalmente partimos.
Ao sair de lá, já era quase meio dia, e eu não via a hora de voltar para minha casa e fazer piadas sobre o tamanho e mal desempenho do pau dele com as minhas amigas.
Ele insistiu em me deixar na porta de casa, mas aguentar o percusso inteiro com a mão direita e errada dele sobre a minha coxa esquerda era mais do que eu poderia suportar.

Desci batendo a porta com força, mas mesmo assim ele desceu o vidro, me chamou e disse: "A gente se fala, bebê !"
Concordando com a cabeça eu pensei: "Eu não sou seu bebê" - sorrindo por dentro, porque sabia que aquele encontro jamais se repetiria.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O Cachorro, o Palhaço e a Menina.

Era uma vez uma menina, um cachorro e um palhaço.
Na verdade são muitas meninas, poucos cachorros e inúmeros palhaços !
Mas vou contar a história desses três, em especial.
Dizem por aí que essa menina tem 1,82 de altura, e que é loirinha de olho azul.
Outros preferem a versão morena cheia de silicone e músculos burros.
Eu prefiro acreditar naquilo que me parece realmente verdadeiro.
Uma versão melhorada da última geração de mulheres de bem que já habitaram a Terra.
Daquelas mulheres pequenas no tamanho, mas que crescem com atitudes memoráveis e idéias dignas de um prêmio ou uma gargalhada.
Ela é de uma espécie rara que é capaz de perdoar.
Afinal, quem já teve o orgulho ferido e ajoelhou pedindo desculpas, sabe que a reverência não dói só nos joelhos.
Por falar em joelhos, os dela merecem atenção especial... Porque carregam uma estrutura mais resistente que muita fortaleza que tem por aí.

Essa menina não tem jeito pra balé, ela sabe judô e samba no pé.
Tem jeito com as pessoas, e não com panelas.
É de uma safra rara de mulheres que sabe a ocasião certa para usar saias.
Ela desfila de segunda a sexta vestida de brasileira e às vezes fantasiada de marinheira
É manhosa e bagunceira... Toma cerveja pra brindar o verão.... o outono, o inverno e a primavera.

Lamento por lamento ela fez uma coleção de medalhas de segundo lugar.
Tenho algumas dessas medalhas também, e uma vez sentamos para conversar sobre elas.
Falamos de sabores, sereias, cheiros, choros, Chaves e o amor.
Assim como ela, gostaria de entender algumas características do ser humano... Já percebeu que os cegos confiam nos cachorros que os guiam, mesmo estes sendo animais irracionais?
Por que não podemos confiar nas pessoas? Como algumas delas conseguem ter menos juízo que um animal que nem sequer pensa?
A resposta é simples.
O instinto do cachorro é companheiro, confiável e amável... o da maioria das pessoas não.
Entre os principais motivos que me fizeram escrever um ou mais textos sobre essa menina, foi não só a cumplicidade imediata que criamos, mas também o fato de ela possuir todas as qualidades que eu mais admiro em muitos cachorros e em poucos seres humanos.
Foi então que eu caminhei com a menina de mãos dadas, enquanto ela me falava das suas coisa, eu resolvi ser como o cachorro.
Ela me falou do seu pai enquanto lavava a louça, falou do seu emprego enquanto tomava banho e falou do seu amor enquanto ficou parada imóvel com os olhos fixos em um quadro bobo que ela pintou ainda criança...
Ela me contou por onde ela tem andado, e como foi quando ela parou de andar. Paralítica de emoções ela de repente voltara a vida.
. . . Num carro em alta velocidade que estava estacionado nos fundos de uma festa. Começou uma daquelas histórias que não se sai contando por aí... Despindo-se peça por peça da sua roupa de marca, ela foi indo em frente e se entregando.
Ignorando as placas de aviso: "Perigo" , ela sorria na cara do perigo, porque estava sendo amada, e quando somos amados tudo tem graça.
Se deixou tocar ao som de risadas bêbadas que vinham do lado de fora. Os vidros já estavam embaçados, assim como as suas idéias.
Aquela noite, só tocaram as músicas erradas.

Dizem que o palhaço não reaproveita a maquiagem, mesmo quando ele faz espetáculos consecutivos. Ele fica de cara limpa, antes de colocar a próxima máscara, mesmo que seja para encenar o mesmo papel.
Assim como os palhaços profissionais, a menina de peito aberto, aceitou o destino perigoso, desenhado na palma da sua pequena mão.
Vivenciou com perfeição a verdade absoluta de cada momento fascinante daquele amor eterno de verão; enquanto o palhaço amador reaproveitava toda maquiagem do seu último número.
"Olhe nos meus olhos" - disse o palhaço; e então a menina cedeu.
É fácil olhar nos olhos quando o resto do rosto está pintado. E agora a menina também está com a maquiagem borrada.

Ao ouvir essa história toda, não acreditei quando ouvi ela dizendo, que mesmo tendo passado por tudo isso ainda se sentia culpada.
O cachorro sorriu latindo e chorando dizendo que ela não tinha culpa nenhuma!
Mas a menina às vezes esquece que entende a língua dos cachorros.
Lavou o rosto, e de cara limpa, olhou pra mim e disse que estava tudo bem. Virou as costas, pôs uma música animada e saiu dançando e fazendo caretas, disse que estava indo pro trabalho...
E assim como o cachorro que é sempre companheiro, eu faço festa sempre que ela volta.