segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Bela Adormecida

Fixação oral e curisidade típica de quem não aceita "não" como resposta.
Fala chorando e sorrindo ao mesmo tempo e às vezes precisa até de tradução. Quase ninguém entende o que ela diz porque fala com o coração; e as pessoas ainda não aprenderam esse dialeto.
Não pára quieta um segundo sequer, anda pra lá e pra cá, mexe em tudo, explora todos os lugares e apronta cada uma... Eu mesmo, já a peguei no flagrante várias vezes fazendo alguma travessura para chamar a nossa atenção, e ela consegue!
Quando gosta de alguém ela vira uma espécie de anjinho protetor. Se preocupa, faz questão da sua presença sempre por perto e até te cobre se estiver com frio. Ainda bem que ela me escolheu como protegido, fico mais tranquilo e mais feliz quando ela está por perto.
Agora, quando ela não gosta de alguém... Bem, nunca aconteceu, e sinceramente duvido que aconteça!
Nem todos os seus gestos são repletos de gentileza, mas ainda assim são cheios de ternura e dedicação pelos outros. Até mesmo pelos uns que não entendem o dialeto da alma.
É aquela presença cotidiana que transforma nossos dias mais cinzentos, em uma brincadeira de "caça ao tesouro", onde a procura nunca termina e a recompensa sempre vale a pena!

Faz bico, cara feia, e muita manha na hora de levantar da cama... Não gosta de ser proibida nem censurada, mas quem é que gosta?
Brinca com a comida, estoura bexigas antes da hora e têm no mínimo 2 amigos imaginários 100% verdadeiros.
Ontem eu a observei enquanto dormia. Ela parecia feliz e agitada durante o sono; se divertindo em algum lugar que só ela conhece... Por onde será que ela andava? Fiquei muito curioso, queria poder ir com ela, um dia desses.

... Chegou então a hora de cantar parabéns pelos seus 81 anos de idade! Com velinhas e velhinhas encima e em volta do bolo, comemoramos seu aniversário, enquanto ela ria de tudo, achando graça da nossa maneira primitiva e inexperiente de demonstrar com música e palmas o nosso carinho.
Nós tentamos arranhar um pouco do idioma dela, pra que ela possa de alguma forma saber, como é especial!

A Dama e os Vagabundos

Não pretendo ter que tomar grandes decisões hoje, nem esperar por deliberações alheias. Quero me divertir observando os cachorros brincando com as crianças e interagirem na praça perto de casa. Acho curioso eles se conhecerem pelo cheiro; se abordando entre estranhos e fazendo amizades.
...
Vá correndo em direção aquele garoto de costas, sentado olhando os cachorros na praça e surpreenda-o cheirando o seu pescoço e cabelos. Me abraçando pela cintura e beijando a parte nua da pele das minhas costas, cruzando os braços na minha barriga, me puxando pra perto e me pegando pra você!
Sua língua percorre todo caminho possível entre as minhas costas até a minha orelha, onde você me consquista dizendo qualquer coisa.
Bem ali, diante das crianças que brincam no gira-gira o mundo também girou pra mim e me fez lembrar como é bom ser abraçado assim, de surpresa, pela cintura.
Algo no seu beijo me arrepia todos os pelos de uma vez em um efeito dominó que domina meu corpo me fazendo fechar os olhos e sorrir pra dentro, porque eu sei que foi algo no meu cheiro que atraiu você até aqui.

O ruído da sua respiração bem pertinho me deixa encabulado, de olhos abertos e gracioso; me entregando de boa vontade e esquecendo o seu atraso de alguns anos. Valeu a pena rosnar para todos que chegaram antes e só deixaram as dúvidas e as pulgas.

Suas mãos sabem exatamente a quantidade de segundos que o meu sangue leva para se agitar à medida que você dedilha a minha pele roçando a sua barba no meu rosto e me dizendo bem baixinho que adoraria beijar minhas pernas. Eu me contorço de vontade de me exibir pra você, como se estivesse no cio. Quando estiver prestes a emitir algum ruído não contido de vontade de ser seu, coloque um dedo na minha boca, bem devagar, para eu me distrair e fantasiar um pouquinho...
Vou beijar seus braços me sentindo devidamente protegido enquanto você acaricia o meu rosto sorridente e sem vergonha.

Ao abrir os olhos percebo que todos os outros cachorros me olham assustados! Eles levantam as orelhinhas e entortam a cabecinha curiosos: "O que será que se passa na cabeça daquele cara, sentado, sozinho sorrindo para nós com jeito de bobo"?
O gira-gira está parado, a praça já está quase vazia e as crianças estão voltando para suas casas... O arrepio que eu senti era de frio! Vai ver o meu cheiro não é bom nem marcante o suficiente para te manter aqui por muito mais tempo do que o tempo de um sonho.