quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Medo De Ser Feliz

Cansei de transformar sacanagem em poesia!
É muito importante, quando for falar das pessoas, contabilizar mentalmente a verdadeira potência das palavras que só fazem disfarçar meus próprios defeitos refletidos nas atitudes alheias baseadas na minha própria covardia.
Criar expectativas esdrúxulas de felicidade só porque é ano novo é bem irônico, já que repeti sem parar os fatídicos erros durante um ano inteiro, que se encerra acabando com o sofrimento que eu mesmo causei a mim. À medida que vamos amadurecendo, lê-se na verdade, à medida que vamos transando mais e pensando cada vez menos, desenvolvemos um terrível mecanismo de defesa imune ao amor e suas variações. O antídoto ainda desconhecido para curar as máculas de um coração biônico prestes a um ataque cardíaco por falta de cuidado, seria uma boa pedida para o Papai Noel. Mas o bom velhinho sabe quanto eu trapaceei, menti, enganei, iludi e sabotei cada tentativa de investimento na minha pessoa...
Dei risada escondido no banheiro enquanto alguém me esperava com uma rosa na mão, gastei o dinheiro reservado para matar a fome das crianças famintas da minha alma e não fiz a revisão dos meus joelhos gastos e sujos de tanto ficar de quatro.

Me dediquei pra satisfazer as vontades do meu ego gozando sem sentir nada por quem sentia muito carinho de estar do meu lado, e ainda acendi um cigarro só pra debochar...
Sempre deixando pela metade minhas palavras que falam muito daquilo que eu nem sei se de fato sinto, consegui sobreviver a tudo de ruim que me aconteceu. Construí uma torre sólida de manias, velhas companheiras, que me elevam ao topo do céu, da onde eu assisto impotente a todas tentativas de salvamento do refém preso por livre e espontânea vontade.
Pela minha janela impedi que os mal feitores se aproximassem, tive um caso com um dos sete anões, confundi amor e amizade e fiquei obcecado por alguém muito bonito. Vivi uma paixão de sonho adolescente e lamentei ter me apaixonado por alguém errado, por alguém casado e por alguém que não gosta de ser amado. Fiquei aos pés de um estranho e assisti meu melhor namorado ir embora... Finalmente vi o príncipe matar o dragão. Desesperei-me quando percebi que na verdade torcia pelo monstro e entrei em pânico quando meu salvador escalava, sem cansar, todos os obstáculos que eu criei. Quando ele se aproximava da minha cama, eu estava na janela, receoso e com medo do que poderia acontecer. Me trouxe lírios que eu exigi e se declarou rápido demais... Minhas mãos tremem só de lembrar as lágrimas que eu não podia mostrar, e no ápice do resgate do meu coração, eu resolvi que não podia mais ficar ali...
Pulei louco, e sem rede de proteção pela janela, no momento que ele me olhou nos olhos. Ao fim da queda, espalhei pelo chão todos os pedaços da minha alma, que eventualmente vão se reunir mais uma vez para outro príncipe, com outras flores, em outra torre... Outra fuga.

A sede de aventuras é exatamente do mesmo tamanho que o vazio que eu sinto. A maldade e o meu tesão são tão grandes quanto toda minha capacidade de perdoar e a minha vontade de casar. Posso viver e morrer no mesmo dia pra renascer depois mais bonito, mais grosseiro e mais cético.
Agora ainda não sei exatamente para onde vou, mas eu sempre chego a algum lugar aconchegante porque aprendi a transformar mágoa em carisma, e disfarço com bom humor toda a minha incapacidade de aceitar uma vida de infelicidade.
Vou encerrar 2010 sem pendências financeiras nem acadêmicas. Mas o coração e os débitos emocionais ficaram para 2011...